A proposta seria apenas contribuir para minimizar uma lacuna em nossa bibliografia de uma leitura gay da vida de artistas brasileiros, e dos modernistas, em particular? Seria possível atualizar o passado a partir de um olhar queer não apenas por meio de uma história de representações de LGBTTQIA+ e de dissidências sexuais, mas de sensações? Seria uma experiência homoafetiva que faz o meu corpo estar mais próximo dele do que de tantos outros artistas modernistas que vieram antes e depois? Qual pode ser o interesse dessas pequenas coisas da rotina, ao invés de grandes debates intelectuais e políticos? O que elas podem evocar, fazer viver? Para quem? Começo a viajar pelo passado como em um continente desconhecido, uma cultura outra. Não estou atrás de raízes, mas de passados inventados e conquistados pelos encontros inesperados como num dobrar de esquina, numa mesa compartilhada com estranhos, numa fila qualquer.
Os primeiros resultados da pesquisa submeto aqui a críticas e sugestões. A homossexualidade não é o centro, mas parte importante de sua vida e contribui para a compreensão da vida cultural do Rio de Janeiro, em especial, nos anos 1920 e 1930, tanto pelos encontros intelectuais como afetivos, redefinidores da herança do Modernismo, cujo centenário comemoraremos em breve. Voltar ao Modernismo não significa voltar a valores canônicos e/ou a perspectivas vitoriosas ou emergentes como a Antropofagia ou a busca de uma cultura nacional centrada no popular e mais recentemente nas tradições e marcas afro-ameríndias. Tão longe não chegaremos, contudo, aqui. Só há algumas sugestões desse Modernismo cosmopolita e local, decadente e aristocrático da melancolia ao invés da alegria, da catástrofe ao invés da utopia.