Se há diversidade de temas, eles são internamente associados, sem que haja necessariamente intenção dessa relação. Assim, em um dos textos, há a informação que nas escolas do início do século passado encontra-se a tendência a incluir alunos de ambos os sexos e jovens e adultos que possam ter dificuldade de frequentar a escola durante o dia, prenunciando a atual discussão sobre a educação inclusiva apresentada em outros textos; em um texto que analisa gestões de governadores do Estado do Acre, mostra-se a ausência de convergência entre propostas e realizações, ao passo que outro indica as pressões que sofrem as universidades para se modificarem em conformidade com o mercado; em ambos apresenta-se a política pragmática que não se refere diretamente à cidadania, mas a proximidade de propósitos políticos e/ou econômicos.
É comum aos textos considerar a educação como um direito social, e um deles denuncia que esse direito, nos últimos tempos, tem se transformado em serviço prestado, podendo dessa forma, não ser oferecido somente pelo estado. A contraposição real, e não de perspectiva de análise dos autores, a essa transformação aparece em outro texto que indica as múltiplas funções dadas ao estado pelos que dirigiam o território do Acre no início do século passado para promover a integração social. De um lado, um estado que promove em diversas áreas as condições para a existência de um indivíduo democrático, de outro, o estado deve formar para o mercado.
O desenvolvimento da aptidão para a leitura e o reconhecimento da linguagem de sinais brasileira, a expansão da cultura pelos novos meios de comunicação, que possibilitam ampliar a educação a distância, indicam também a reflexão sobre a inclusão social. A discussão sobre o currículo e a transdisciplinaridade indicam a pós-modernidade que se deriva e se contrapõe à modernidade, apresentada, sobretudo, nos textos sobre a educação escolar no início do século passado.
Conforme mencionado, esses confrontos e complementações de dados e de informações entre os textos não são explicitadas, apesar disso, é interessante ver a perspectiva histórica, possibilitada pelo conjunto de textos que permite verificar a continuidade e a ruptura entre tendências passadas e atuais; confrontos esses não redutíveis à mera transformação de uma tendência na outra, mas na sua coexistência. Assim, se a educação inclusiva pede pela heterogeneidade, no passado, mas também no presente, nas escolas que privilegiam o desempenho e a competência em detrimento da experiência, no sentido que Walter Benjamin atribui a esse termo, no quanto comporta de sabedoria e articulação entre a coletividade e o indivíduo, a homogeneidade obsta a percepção de dificuldades diferenciadas, percepção essa defendida pelos proponentes da educação inclusiva.
Antes da discussão sobre a educação inclusiva já havia a contraposição, que continua a existir, entre educação humanista e educação tecnológica. Ora, nos textos que tratam da educação a distância, a existência de uma das posições possíveis ante este embate é explicitada: a convivência entre a educação presencial e aquela transmitida pela máquina, ainda que mediada por pessoas, e a coexistência entre o livro impresso e os textos da internet; se é a posição mais adequada, cabe ao leitor decidir; de todo modo, há excelentes argumentos em defesa da citada possibilidade.
A educação para a cidadania e a educação para o mercado também reapresentam o confronto entre formação humanista ou formação tecnológica; se é claro que essa é uma falsa contraposição, uma vez que toda formação deveria ser destinada ao convívio pacífico entre os homens, e que a educação humanista é propícia à reflexão e à crítica, desejáveis para quem almeja uma sociedade justa e democrática, a educação tecnológica contribui para a produção de riquezas materiais e intelectuais necessária para que ninguém mais viva na miséria e assim esta sociedade possa ser justa.
Pelas questões levantadas e por tantas outras, a leitura desta coletânea contribui de maneira significativa para a compreensão da educação em nosso país e em nosso tempo: ao se voltar para o passado, permite rever promessas cumpridas e as que foram abandonadas e que cabe retomar; ao se dirigir ao presente, indica o que a educação escolar pode estar perdendo ao ceder às pressões feitas e o que se vislumbra a favor da formação de uma humanidade que não precise mais alijar nenhum dos homens da substancial experiência acumulada ao longo de nossa história.
Elizabeth Miranda de Lima é doutora em Educação pela PUC-SP. Professora Associada do Centro de Educação, Letras e Artes da Universidade Federal do Acre.
Luciana Marino do Nascimento é doutora em Teoria e história Literária pela UNICAMP. Pós-Doutora em ciência da Literatura pela UFRJ. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre. Docente do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PQ2).
Luciete Basto de Andrade Albuquerque é Doutora em Didática – FE-USP, docente do Centro de Educação, Letras e Artes, da Universidade Federal do Acre. Pesquisadora sobre Práticas Pedagógicas e Educação a Distância; Avaliação de software para ensino a distância. Docente do Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre.