Uma coletânea de contos de temática gay em que a ausência ou a solidão imperam, apenas interrompidas aqui e ali por uma amizade invulgar (Jony, o vietnamita) ou por um lampejo de amor que se desvanece rapidamente (Quatro canções). No entanto, apesar da coerência temática e de estilo, não existe monotonia. Uns contos são mais compridos, outros mais curtos, uns mais concretos, outros mais vagos, uns mais sensuais, outros mais românticos... e, para apurar o "tempero", alguns são mais inesperados (Santa Fe) e outros mais loucos e divertidos (Elvis)!
"Corro à janela, a tempo de ver a fugaz e esvoaçante figura de Elvis desaparecer para os lados do Arpoador. Volto à cama. Sacudo os restos da mancha vazia e acastanhada, e aliso o lençol no lado da cama que não ocupo. Fecho os olhos e sinto-me sereno. Sereno e satisfeito, pela certeza de que vi Elvis voar, vivo e reluzente aos primeiros raios de sol do dia, sobre a Baía de Guanabara."
Miguel Botelho nasceu no ano em que os Beatles gravaram Love Me Do, o que marcaria radicalmente a sua vida. Vive em Coimbra, mas habituou-se à contrariedade. Procrastina por vocação e serve o estado provocação. Escreve histórias vagas nas horas curtas. Publicou em 2011, Ilha: Narrativa, em prosa e em verso, de uma viagem de regresso (edição de autor).