Claudia Rankine faz aqui o que se convencionou chamar (sobretudo em seu país de origem) de "poesia documental". A grande poeta se apropria dessa maneira de enxergar e descrever liricamente a realidade, construindo a autobiografia e a crônica dos anos Bush, mas — graças à potência de sua voz — seus textos se ajustam perfeitamente para compreendermos a realidade atual, sob qualquer líder.
Neste conjunto de textos a autora explora o que corrói e infecta a vida nos Estados Unidos: a televisão, a publicidade desenfreada e uma justiça que, em geral, opera em duas velocidades, dependendo da condição social e principalmente da cor da pele. Sua verve aqui é incisiva, mas profundamente humana; seu olhar é afiado, ao mesmo tempo crítico e engraçado, mas sem sombra de cinismo, sobre essa América intoxicada de imagens e fármacos. E atravessa dramas nacionais e crises familiares com uma lucidez comprometida e um humor radical que tornam sua poesia inovadora e cativante da primeira à última palavra.
Claudia Rankine nasceu na Jamaica em 1963. Poeta, ensaísta e dramaturga, cultiva uma escrita híbrida entre a poesia e a prosa, sempre discutindo temas centrais da experiência norte-americana: o racismo, a injustiça, a opressão do poder. Em 2016 recebeu a MacArthur Fellowship. Dela a Todavia publica Só nós (2021).