As, autoras, sempre trabalhamos em um ambiente predominantemente masculino, porém com pequenos nichos nos quais as mulheres prevaleciam, como em nosso setor. Dentro desse microcosmo, a perspectiva feminista permeava as conversas.
Se, por um lado, há muito a ser dito sobre as conquistas femininas, especialmente nas últimas décadas, por outro lado, ainda nos deparamos com poucos nomes para citar quando discutimos aquelas que vieram antes de nós e pavimentaram o caminho para que estejamos aqui hoje.
Durante uma de nossas conversas sobre temas relacionados à questão de gênero, com foco especial no protagonismo feminino, nos deparamos com a lista das 25 mulheres que fizeram parte da Assembleia Constituinte de 1988. A relação de nomes nos trouxe recordações ao reconhecer algumas das protagonistas que nos impactaram, mas também sentimos surpresa ao não conseguirmos identificar a maioria dessas mulheres.
Quem foram essas mulheres? Como construíram suas trajetórias até serem eleitas para a Constituinte? Qual foi o rumo de suas vidas depois desse marco?
Foram tantas as perguntas que foi decidido investigar em conjunto essa história. A cada fragmento do passado revelado, a cada obstáculo superado por elas, a cada demonstração de força e resiliência, nosso compromisso de desvelar e disseminar suas trajetórias se fortalecia.
Assim, opta-se por escrever um livro, não seguindo o formato acadêmico de um texto científico, mas adotando um estilo mais informal, similar à escrita jornalística. O objetivo era tornar nossa obra acessível a um público mais amplo. A motivação subjacente era divulgar a história dessas mulheres para um número maior de leitoras, de forma gratuita e on-line, permitindo que mais pessoas pudessem conhecer e se inspirar nas trajetórias individuais das deputadas que nos legaram a Constituição de 1988.
A pesquisa concentrou-se nos dados oficiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, bem como em artigos de revistas e jornais publicados naquela época. Sempre que possível, buscamos incorporar trechos de discursos ou entrevistas para destacar claramente a voz dessas mulheres.
Cada uma das 25 constituintes possuía um projeto de vida e uma agenda política distintos, mas durante a Assembleia Constituinte, uniram-se em torno do ideal comum de promover a pauta feminina e alcançaram êxito nessa missão.
Nesse contexto, 26 mulheres foram eleitas, das quais 25 tomaram posse dentre os 559 congressistas. Logo de início, depararam-se com um plenário que não estava preparado para a presença feminina, a ponto de sequer haver banheiros destinados a elas. Os obstáculos, preconceitos e discriminações foram inúmeros, e diante desses desafios, tomaram a sábia, porém não simples, decisão de deixar de lado suas ideologias e agendas políticas individuais, unindo-se como uma bancada feminina em prol de uma agenda unificada.
Conversaram, debateram e deliberaram, chegando a um consenso sobre as causas que promoveriam e defenderiam coletivamente. Dessa forma, formou-se a bancada feminina, apelidada de “lobby do batom”, cuja primeira conquista foi a obtenção do banheiro no plenário. No entanto, essa não foi sua única conquista, tampouco a mais significativa. Mais de 80% das pautas defendidas por elas receberam aprovação e foram incorporadas ao texto constitucional, resultando em uma Constituição que respeita a igualdade de gênero.
A história desse coletivo passou a ser gradualmente contada, especialmente após a celebração dos 30 anos da Constituição, quando todas foram agraciadas com o Prêmio Bertha Lutz. Diversos livros e documentários narram essa jornada. Além da bancada feminina enquanto grupo, as histórias individuais das 25 constituintes, com seus desafios e conquistas particulares, são relatos extraordinários.
Convidamos o leitor a testemunhar a narrativa da vida das pioneiras da Assembleia Constituinte, mulheres inspiradoras que contribuíram para garantir a igualdade de gênero e a proteção constitucional dos direitos humanos, moldando a sociedade que conhecemos hoje.
Pós-graduada em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná (EMAP), assistente de Juiz do
Tribunal de Justiça do Paraná. Endereço eletrônico: ana.r.silva@tjpr.jus.br.
Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Paraná, titular junto à 5a Turma Recursal; mestranda em Direito,
Eficiência e Sistema de Justiça, na Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (EN-
FAM); especialista em Direito Digital pela ENFAM; graduanda em Inteligência Artificial pela Universidade
Positivo (UP). Endereço eletrônico: chsa@tjpr.jus.br.
Pós-graduada em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná; pós-graduada em Direito Civil
pela Universidade Cândido Mendes. Servidora Pública do Tribunal de Justiça do Paraná. Endereço eletrônico:
evec@tjpr.jus.br.
Pós-Graduanda em Direito Civil e Processo Civil em Gran Centro Universitário; Estagiária de Pós-Graduação
do Tribunal de Justiça do Paraná. Endereço eletrônico: sarah.maas@tjpr.jus.br.
Pós-graduada em Direito Contratual pela Faculdade Cers; pós-graduada em Advocacia no Direito Digital e
Proteção de Dados pela Escola Brasileira de Direito. Assistente de Juiz do TJPR. Endereço eletrônico: leticia.
weinhardt@tjpr.jus.br.
Pós-graduanda em Processo Civil Aplicado pela Escola Brasileira de Direito; pesquisadora no Grupo de Estu-
dos em Direito Autoral e Industrial (GEDAI/UFPR). Estagiária de pós-graduação no Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná. Endereço eletrônico: millena.oliveira@ufpr.br.
Professora associada da Faculdade de Direito da UFPR. Coordenadora do Constitucionalismo Feminista. Advogada.