No Brasil, a história da Análise do Comportamento se confunde com a história da Psicologia enquanto profissão, formação e ciência. A literatura indica que a expansão e institucionalização da Análise do Comportamento podem ser verificadas de diversas formas, como: as traduções realizadas, as organizações de analistas do comportamento criadas, os cursos de graduação e pós-graduação que se estabeleceram com orientação em Análise do Comportamento, os núcleos de pesquisa com ênfase nessa abordagem, as publicações dessa comunidade e os eventos.
Dentre os eventos, podem ser destacadas as 30 edições dos encontros organizados pela Associação Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC) e, nos últimos anos, ganham destaque as Jornadas de Análise do Comportamento (JACs) que já são mais de 40 JACs, inclusive em Mato Grosso do Sul, e reúnem analistas do comportamento locais para trocar experiências, estudos e pesquisas. A obra “Diálogos em Análise do Comportamento (volume 3)” é um dos produtos mais óbvios das edições das Jornadas de Análise do Comportamento em Mato Grosso do Sul. Os dez capítulos que compõem este livro são oriundos de experiências profissionais, pesquisas de iniciação científica, dissertações, teses.
O livro se inicia com a apresentação feita por Felipe Souza e Marco Gonçalves dos artigos de Rodolfo Azzi que foram publicados e baseiam-se em Análise do Comportamento. Entre os materiais descritos, o leitor será capaz de identificar que a produção de Rodolfo Azzi vai além dos dois artigos mais citados, Suggested Portuguese translations of expressions in operant conditioning (1963) e Exteroceptive control of response under delayed reinforcement (1964). No capítulo 2, intitulado Análise do Comportamento na área clínica no Brasil: Uma análise com base em publicações, Carolina Niero analisa os trabalhos publicados em Análise do Comportamento na área clínica, no Brasil, de modo a caracterizar a evolução dessa área entre nós, os procedimentos utilizados, as influências que marcaram a área. A partir da constatação de que toda explicação de um dado fenômeno, independente da área do conhecimento, busca explicitar relação entre o fenômeno em questão e alguma outra coisa, Lucas Córdova discorre, no capítulo 3, sobre determinismo, probabilidade e comportamento.
O capítulo 4, de Jaqueline Torres e Rodrigo Miranda, contém análises quanto ao uso cerimonial do Laboratório de Análise do Comportamento como ferramenta no ensino de Psicologia. Percebe-se que há um uso corriqueiro do laboratório para o ensino de Análise do Comportamento, com poucas modificações de seu modelo inicial, proposto no final da década de 1940, na Columbia University. O capítulo 5 é de autoria de Marina Fenner, Roberta Alves e Thaize Reis. Neste capítulo, as autoras relatam que o aumento de interesse de analistas do comportamento em problemas de pesquisa tradicionalmente concernentes a Psicologia Social como classe, raça, gênero, sexualidade e feminismo, possibilitando refletir que o conhecimento da Análise do Comportamento e, portanto, do terapeuta analista do comportamento, também é socialmente construído, parcial, limitado pela política e história. No capítulo 6, Alberto Santos analisa o uso de técnicas em Análise do Comportamento aplicada ao Esporte.
Ricardo Panassiol, no 7º capítulo, apresenta um olhar que integra as neurociências às descrições comportamentais, permitindo compreender que a Análise do Comportamento e as Neurociências compartilham uma história de colaboração e, também, crise. Tendo em vista o crescente interesse por emergência comportamental, Paulo Ferreira, Guido Soldera, Vinicius Gonçalves, Daiane Daleaste, Jaume Cebria e Waldir Sampaio apresentam, no capítulo 8, a emergência de desempenho de exclusão a partir de treino de equivalência. No capítulo 9, Diogo Roncisvalle, Diovani Palha e André Varella discorrem sobre os avanços na compreensão do comportamento simbólico oferecidas pelo Paradigma de Equivalência de Estímulos e pela Teoria das Molduras Relacionais. Finalizando este volume, no capítulo 10, Tatiane Castro relaciona autocontrole e consequências grupais, apresentando uma análise comportamental para o contexto da pandemia pela COVID-19.
Ao longo da organização, diversos convites foram realizados a fim de garantir uma maior representatividade dos interesses da comunidade sul-mato-grossense de Análise do Comportamento. Sabemos que os capítulos apresentados, neste momento, não cobrem todas as possibilidades de atuação em Análise do Comportamento, mas podem indicar a necessidade de um melhor diálogo entre acadêmicos e profissionais para uma compreensão do fazer analítico-comportamental no Estado, contribuindo para que possamos conhecer os fundamentos epistemológicos, históricos, básicos e aplicados presentes na construção desse saber psicológico.
Esperamos que material que possa ser acessível a acadêmicos e profissionais de Análise do Comportamento, bem como a interessados no processo de institucionalização desta área no Brasil e, especificamente, em Mato Grosso do Sul.