Mais importante que isso, podemos matizar o estilo de Bernhard através de suas entrevistas e compreender que, por trás de tanta revolta, há humor e até mesmo ternura. Esses vislumbres são vistos em momentos mais pessoais, quando ele revela, por exemplo, o carinho que tinha pelo avô, o escritor Johannes Freumbichler, que tanto influenciou sua trajetória.
Na pista da verdade cobre quatro décadas de discursos furiosos, comentários irônicos e entrevistas intrigantes, partindo dos primeiros livros de poesia do autor e seu romance de estreia, até seus últimos dias, em 1989. Seus confrontos constantes não o impediam de se tornar um autor cada vez mais celebrado, e podemos contemplar como a idade não domesticou seu gênio, que seguia disparando contra o establishment da cultura europeia, formado por puxa-sacos e burocratas.
Mas, longe de ser apenas denúncia, em Bernhard transborda humor peçonhento. Afinal, como ele mesmo diz: "Tudo é cômico. Assim como na minha prosa, a pessoa nunca pode saber ao certo: devo agora gargalhar ou não?".
Thomas Bernhard nasceu em 1931, na Holanda, e morreu em 1989, na Áustria. Considerado um dos mais importantes artistas da segunda metade do século XX, de sua obra, destacam-se os romances O náufrago, Extinção e Mestres antigos, além de diversas peças de teatro que vêm sendo encenadas com frequência no Brasil e no mundo. Dele, a Todavia publica Derrubar árvores: Uma irritação (2022).