Marco da literatura moçambicana, Niketche é uma obra que questiona as tradições e debate, como nunca antes, as condição feminina na sociedade. Esta é a obra-prima de Paulina Chiziane, vencedora do prêmio Camões 2021.
"Ninguém pode entender os homens. Como é que o Tony me despreza assim, se não tenho nada de errado em mim? [...] Dei‐lhe amor, dei‐lhe filhos com que ele se afirmou nesta vida. Sacrifiquei os meus sonhos pelos sonhos dele. Dei‐lhe a minha juventude, a minha vida. Por isso afirmo e reafirmo, mulher como eu, na sua vida, não há nenhuma! Mesmo assim, sou a mulher mais infeliz do mundo." Esse é o desabafo de Rami, protagonista de Niketche, que depois de vinte anos de casamento descobre que seu marido está vivendo uma vida dupla — ou melhor, quíntupla.
Em uma tentativa de salvar seu relacionamento e seguindo os moldes da sociedade em que vive, Rami se une às amantes de Tony e exige que ele se case também com as outras quatro mulheres, seguindo o costume da poligamia — somente assim os direitos e a honra das cinco estaria garantido. Mas essa união provoca desdobramentos até então inimagináveis.
Nesta crítica ao mesmo tempo divertida e mordaz, Paulina Chiziane, vencedora do prêmio Camões de 2021, explora a cultura e os valores do seu país, a hipocrisia da sociedade em geral e a sujeição das mulheres em todo o mundo.