Ditado ao seu fiel secretário Rudolf Hess em 1923, na prisão de Landsberg – onde cumpria uma pena de cinco anos depois do golpe falhado em Munique – A Minha Luta é, de certa forma, o manifesto do nacional-socialismo tal como Hitler o entendia. Apesar do seu estilo errático e por vezes alucinado, a obra contém a sua visão programática para a sociedade alemã – com alusões pouco veladas de eugenismo e uma ênfase obsessiva na questão racial, por exemplo, mas também sobre o papel da mulher alemã ou dos sindicatos –, para uma nova política externa (a referência constante à necessidade de espaço vital, mas também à política de alianças a levar a cabo) e, ainda, premonitoriamente, sobre os judeus. No fundo, 10 anos antes de chegar ao poder, o que viria a ser a política interna e externa do III Reich levada a cabo por Hitler já estava plasmada em livro. Embora algumas das suas ideias, em termos geopolíticos, reflictam os medos e anseios dos Alemães, fruto da sua posição geográfica no continente europeu – a eterna obsessão com as alianças que pudessem contrariar o «cerco», o aperto entre a França e a Rússia, agora pela mão do bolchevismo – noutros aspectos o texto é mais perturbador, em especial na questão do eugenismo, no futuro dos povos de Leste e, essencialmente, no destino a dar aos judeus... «Mein Kampf (“A Minha Luta”) podia também chamar-se Mein Kopf (“A Minha Cabeça”). [...] Adolf Hitler escreve, no fundo, uma confissão, no sentido agostiniano de “profissão de fé”. Ou seja, explica ao que vem e para onde vai. O problema [...] é que não foi tomado a sério.» Nuno Rogeiro in Indy/Independente Biografia do Autor: Adolf Hitler (1989-1945) nasceu na Áustria, na altura ainda parte do império austro-húngaro. Aos três anos, a família mudou-se para a Baviera. Em 1905, Hitler abandona a escola e parte para Viena, onde levaria uma existência boémia e teve o seu primeiro contacto com ideias racistas e anti-semitas. Tentou inscrever-se na faculdade de Belas Artes, sendo rejeitado por duas vezes e levando depois uma existência miserável por falta de dinheiro. Quando rebentou a Grande Guerra, alistou-se no exército da Baviera, como cidadão austríaco, e serviu como mensageiro. Foi ferido na batalha do Somme, em 1916, e bombardeado com gás mostarda, em 1918. Viria a ser condecorado. Depois da guerra, manteve-se no Exército e serviu no serviço de informações. Foi aqui que, ao acompanhar os diferentes grupúsculos políticos, ficou a saber da existência do Partido dos Trabalhadores Alemães, que integrou em 1919; mais tarde, o partido viria a mudar o nome para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Hitler saiu do Exército em 1920 e passou a trabalhar a tempo inteiro para o partido. Os seus dotes retóricos em público granjearam-lhe muita popularidade e após algumas convulsões internas conseguiu que o elegessem chefe do partido. Em 1923, Hitler tentou um putsch, com a ajuda de várias figuras, entre elas o general Ludendorf, herói de guerra alemão. A conjura fracassou e os cabecilhas foram presos. Foi na prisão que Hitler começou a ditar Mein Kampf a Rudolf Hess.
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