"O que é cada mulher que amamos, cada relacionamento que vivemos, senão um morto-vivo, a viver-morrer cada vez que chega ao fim?" A pergunta ecoa de personagem para narrador neste romance, uma história de amor que vai ganhando ares de thriller à medida que conhecemos Mayra e Lorna, antípodas femininas na trajetória de um herói tão mórbido e anônimo quanto os seus obituários, publicados diariamente nas páginas de um pequeno jornal. Como em Alan Pauls, referência que se anuncia já na epígrafe do livro, o amor aqui é uma afecção, um pesadelo que transformará para sempre as vidas desses três personagens. E nada impedirá o passado de retornar em looping, feito o filme de zumbi que se repete infinitamente no apartamento onde, também já sabemos de entrada, há alguém morto escondido. Em A Mulher Faminta, camadas de ficção se sobrepõem numa narrativa que expõe ainda o atordoamento de uma geração diante da liquidez de sua época – a liquidez, talvez, do próprio amor: essa cólera que também floresce em tempos de apatia.