Na Antigüidade grega, as comédias eram vistas pelas classes cultas como um gênero popular menor, que nada acrescentava ao espírito. Entretanto, a genialidade do poeta ateniense Aristófanes (445 - 385 ? a. C.) conseguiu suplantar o descaso com que as peças cômicas eram vistas pelos eruditos – aqueles que, justamente, determinavam e registravam o que iria passar à posteridade –, e várias das suas comédias chegaram até nós. A mais representativa e importante delas é, provavelmente, Lisístrata, lançada pela Coleção L POCKET em tradução do escritor e jornalista Millôr Fernandes.
Em meio a uma guerra que se prolonga, ceifando a vida dos homens e filhos de Atenas e esvaziando os cofres públicos, as mulheres gregas, lideradas por Lisístrata, decidem fazer o que está ao seu alcance: negar os deveres matrimoniais aos seus maridos, até que estes assinem um acordo de paz. De quebra, elas se apoderam do erário público – recurso fundamental para financiar as incursões guerreiras.
Oriunda de uma época em que as mulheres não subiam ao palco, assim como não eram autorizadas entre o público do teatro, Lisístrata é um retrato de seu tempo e da civilização ocidental. Um retrato bem-humorado, no entanto: inversões de papéis e situações absurdas e carnavalizadas marcam o texto. Nas entrelinhas desta obra-prima do pai da comédia, o que se vê é a discussão de temas tão sérios quanto atuais, como o a paz e a democracia, o amor à pátria e o preço da guerra.
A tradução do também autor de peças teatrais Millôr Fernandes garante o humor e a agilidade do texto.