Numa narrativa não linear, o plano da ação e o da memória vão se superpondo, para compor o fio narrativo e a cronologia dos acontecimentos. Por meio de uma história dramática, o romance tem um discurso filosófico, religioso e político que transcende o mero factual. Frei Abóbora, homem despojado de ambições materiais que se devota à causa dos índios, passa a vida entre a cidade e o sertão.
Na visão de mundo do protagonista — um ser em permanente conflito existencial —, as criaturas ligadas à natureza, desprovidas de maldade e malícia, fazem retornar a inocência perdida à alma do homem, corrompida pelo caos de uma civilização eminentemente urbana.
José Mauro de Vasconcelos nasceu em 26 de fevereiro de 1920, em Bangu, no Rio de Janeiro. Foi um dos onze filhos de uma família muito pobre. Passou a infância com uns tios em Natal, aprendeu a ler sozinho e com nove anos já ganhava campeonatos de natação e futebol. Por conta do seu espírito irrequieto, tentou fazer vários cursos: dois anos de Medicina, principiou Desenho, Direito e Filosofia. Teve uma vida muito intensa — trabalhou como pescador, professor, modelo, bailarino, garçom e ator de cinema, teatro e televisão. Viajou pela Europa e por todo o Brasil, acompanhando os irmãos Villas-Bôas. Suas inúmeras experiências e a prodigiosa capacidade de contar histórias deram a Zé Mauro muitas de suas personagens e muitos dos cenários de suas obras. Ele dizia que "a literatura é a arte mais difícil, porque a palavra tem que dar ao todo as cores e as nuanças da pintura, o som e a harmonia da música, o movimento. Escrever é a maneira que encontrei para transmitir minhas vivências, o bem e o mal, e um sentimento que anda muito esquecido: a ternura. E a vida sem ternura não vale nada". O escritor morreu em São Paulo, em 24 de julho de 1984.