"Fiquei eu imaginando o que viria a ser a história desta mulher. Já naquele tempo me andava o cérebro, o coração, ou o espírito – não sei bem o que era – a fermentar a massa de volumes que saíram depois mal levedados, alguns azedos, outros insípidos, e Deus sabe se outros hão de sair piores na substância e no feitio. O certo é que eu, em 1845, há quase vinte anos, bem que nem sequer entressonhasse o céu e o inferno de escritor, já me empenhava em tecer enredos de romances, enquanto os meus lentes de Química e Botânica se desvelavam em me fazer compreender que há ácidos e óxidos, e que há vegetais monocotiledóneos, e vegetais andróginos: coisas de que eu sinceramente não duvido nem sei nada. O entrecho de novela, que eu fantasiava por conta da maltrapida Albertina, era injurioso à pobre mulher. Queria a minha derrancada imaginação que ela tivesse descido as escaleiras de uma vida precipitosa até se atolar no esterquilínio donde saíra para se assentar nas lájeas das ruas, estendendo a mão à caridade dos transeuntes. Ora, como já então estavam escritos aqueles muito sabidos versos de Victor Hugo, que dizem:
Oh! n'insultez jamais une femme qui tombe!
Qui sait sous quel fardeau la pauvre âme succombe!"