"As políticas assistencialistas, que são na verdade políticas de funcionalização da pobreza, são a contraparte desse movimento de verdadeira liquidação da classe em curso no desenvolvimento brasileiro.(...) A erosão da base classista e a não-representatividade dos partidos e outras organizações políticas, como os próprios sindicatos, produzem um curto-circuito que é fatal para a política e para o exercício de governo." Francisco de Oliveira Desmanche. Da representação, da política, do público, da sociedade, das instituições, da democracia e da participação justamente quando estas pareciam mais próximas do que nunca, com o fim da ditadura militar. O novo livro da coleção Estado de Sítio, A era da indeterminação, é um projeto do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic), que investiga a privatização das decisões, a redução da esfera pública e o estado de exceção como paradigma de governo. Inspirado nas idéias de Francisco de Oliveira, autor de dois artigos e co-organizador junto com Cibele Saliba Rizek, o livro avança sobre o campo de compreensão das contradições da realidade brasileira, aberto a partir do ensaio "O ornitorrinco", publicado em 2003 pela Boitempo. Percebe-se, nos vários fragmentos do quebra-cabeça brasileiro analisados na obra, a sombra do peculiar animal, que para Oliveira simboliza o estranhamento em relação ao estágio de desenvolvimento atual. A era da indeterminação é justamente a ruptura da possibilidade de uma dinâmica que ligue classes, interesses e representação nas formas da política e nas ações de governo. O desligamento da economia da política. E uma crise de representatividade cuja solução decididamente não se encontra em uma discussão cosmética e oportunista de reforma política. Na primeira parte do livro, Francisco de Oliveira define e mostra as origens desse cenário na economia, na política e na cultura.
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