As fábulas de La Fontaine, lidas e admiradas universalmente sob o ponto
de vista moral, encerram uma lição bem mais profunda enquanto ao
problema da criação artística. Acreditou-se por muito tempo que o génio
estético tirava todos os elementos da sua obra da própria
impressionabilidade, impondo-se à adorarão nas condições de uma absoluta
originalidade. O génio era como o Deus bíblico tirando o mundo do nada.
Ao trabalho da moderna síntese física, que levou à conclusão "ex nihilo
nihil", corresponde também a descoberta da crítica literária, de que
todas as grandes manifestações estéticas realizadas pelas capacidades
individuais assentam sobre uma base tradicional, e são tanto mais belas e
imperecíveis quanto esse tema transmitido pelo passado e por outras
civilizações adquiriu um caráter de universalidade. As fábulas de La
Fontaine põem em evidência este princípio fundamental achado não só para
a crítica das obras-primas das literaturas como para a disciplina e
impulso para a renovação das formas estéticas da civilização moderna.