Primeiro vencedor do Novel Prize, prÃĒmio literÃĄrio coorganizado pelas prestigiosas editoras New Directions, Fitzcarraldo e Giramondo, Frio o bastante para nevar se passa nos poucos dias de uma viagem pelo JapÃŖo realizada por uma jovem australiana e sua mÃŖe, nascida em Hong Kong. Debruçando-se sobre relaçÃĩes familiares complexas e a impossibilidade de se conhecer verdadeiramente o outro, a narrativa acompanha os episÃŗdios da viagem, mas tambÊm passeia por memÃŗrias da filha, que, como uma Sherazade da vida interior, sobrepÃĩe lembranças e pensamentos ao sabor de seu fluxo de consciÃĒncia. Enquanto as duas visitam museus, cafÊs e livrarias, ela rememora episÃŗdios da histÃŗria materna, passagens da infÃĸncia de ambas e dos seus anos como estudante de literatura inglesa, quando se abriram para ela horizontes que a vida de imigrante negou à sua mÃŖe. Como de costume, essas conquistas vÃĒm acompanhadas de perdas, e a distÃĸncia que se instala entre as duas ao longo dos anos Ê prova disso. Na expectativa de estreitar o diÃĄlogo com a mÃŖe, ela planeja uma viagem a um paÃs estrangeiro à s duas. "Pensei tambÊm que a primeira lÃngua da minha mÃŖe era o cantonÃĒs, e a minha, o inglÃĒs, e como sÃŗ falÃĄvamos juntas em uma, e nÃŖo na outra", reflete a narradora conforme se dÃĄ conta da profundidade do mistÊrio materno. Por trÃĄs da profusÃŖo de detalhes com os quais a filha preenche este relato â melancÃŗlico como o JapÃŖo chuvoso que elas visitam â, revela-se a brutalidade da relaçÃŖo entre mÃŖe e filha. Pois, se à primeira vista este Ê um romance de pouca voltagem, a turbulÃĒncia por baixo da sua superfÃcie logo se torna palpÃĄvel e incisiva. Durante os passeios, vemos como as questÃĩes de poder sÃŖo negociadas, como a proximidade, que parece uma opçÃŖo, nunca se materializa, como o passado e o presente, o eu e o outro, a arte e a vida sÃŖo coisas que transitam num contÃnuo. EspÊcie de meditaçÃŖo literÃĄria em que os pensamentos da narradora sÃŖo mais centrais do que os fatos, Frio o bastante para nevar Ê uma elegia à busca pelo diÃĄlogo e uma poderosa reflexÃŖo sobre o papel da arte na expressÃŖo do que nÃŖo pode ser traduzido em palavras.