Provocativa talvez seja a definição mais justa para a escrita de Hilton Als, crítico da revista The New Yorker que escreve sobre teatro, cinema, música, artes visuais e comportamento há mais de trinta anos. E não apenas quando ele trata de temas em si polêmicos como aids e pornografia, mas principalmente quando os assuntos são amor, amizade e morte. Garotas brancas é seu primeiro livro com ensaios inéditos, boa parte deles perfis de personagens centrais da cultura pop do século 20 misturados à própria vida do autor. O livro, porém, começa com um longo texto autobiográfico, que inaugura um estilo singular. Somos capturados pela história de seu longo e idiossincrático romance com um homem mais velho, que se confunde com referências culturais as quais marcaram toda uma geração. Transitando entre os fatos, Als trata de estética, gênero, sexualidade e negritude, e exibe uma capacidade analítica aguda ao refletir sobre a trajetória de artistas como Michael Jackson, Eminem, Truman Capote, Richard Pryor, Louise Brooks, Flannery O'Connor, e também sobre figuras menos conhecidas, mas igualmente brilhantes, como Louise Little, mãe de Malcolm X, e o editor de moda da revista Vogue norte-americana, Andre Leon Talley. Algumas dessas personagens são "garotas brancas", uma definição fugidia, que dá título ao livro e vai ganhando contorno ao longo dos textos. Hilton Als, filho de imigrantes de Barbados que sempre viveu em Nova York, faz da cidade também uma figura central do livro. Criado em uma família negra de classe média, sua vida e obra são repletas de ambivalências e indignação. Talvez, por seu autor ser atacado com palavras como "você é muito gordo, você é preto demais, um horror, um horror!", ou acusado de ser sensível demais para o mundo em que nasceu, Garotas brancas seja uma expressão brilhante do multifacetado início do século 21.