Justine: ou os tormentos da virtude

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Foucault observou, em várias ocasiões, que Justine está para a modernidade como Dom Quixote para o barroco. Ao ler as relações entre o mundo e a linguagem à maneira do século XVI, isto é, pelo viés da semelhança, Quixote vê castelos nas estalagens e damas nas camponesas. Aprisiona-se, inconscientemente, no mundo da pura representação; mas, como essa representação só tem por lei a similitude, a equação reveste a forma irrisória do delírio, tornando o herói uma simples personagem de um livro que não leu e cujo destino lhe é imposto, na galhofa, pelos outros. Em Justine assistimos ao momento de declínio desse mesmo movimento. Não se trata mais do triunfo irônico da representação sobre a semelhança, mas da violência do desejo, quebrando os limites da representação. Justine é um libelo contra os philosophes. Não defende nem o livre exame nem a liberdade de costumes, mas a servidão da razão aos desejos, ou seja, ao poder. Ao elaborar uma teoria da libertinagem, Sade é consciente de que os homens não são livres mas dependem do desejo (de um desejo). Como tal, o marquês tende uma ponte com a linha devassa e quebrada de Goya, graças à qual descobre-se o vazio do irrisório. Por isso, certamente, Lacan via, em Sade, o complemento de Kant. Aí onde o filósofo mandava abstrair o corpo e tomar o outro sempre como meio e nunca como fim, o moralista, pelo contrário, escolhia o outro sempre como objeto e jamais como fim altruísta. Talvez nessa crítica da Estética, como ciência universal do belo, se insinue uma reivindicação da Poética, como livre domínio da linguagem e dos afetos, uma questão absolutamente contemporânea. Raul Antelo

О аутору

Donatien Alphonse François, mais conhecido por Marquês de Sade (1740-1814), dificilmente abre espaço para concessões. Sua obra é simultaneamente controversa e desordenada, apresentando uma enumeração exaustiva de imagens dos limites do humano. Tais limites foram expandidos pela carreira no exército, onde ele participa, em toda a campanha, como capitão, durante a Guerra de Sete Anos (1756-1763). Mesmo tendo conhecido um campo de batalha nessas condições, Sade foi encarcerado pelo seu comportamento libertino e seus humores crueis. A primeira vez foi em 1763, sendo logo depois liberado. Em seguida, ele é preso novamente em 1768. Para evitar uma nova condenação, o Marquês foge para a Itália em 1772. Sua vida oscila entre uma liberdade provisória e novos encarceramentos, como em 1777, em Vincennes, até que ele seja aprisionado na Bastilha, de 1778 a 1784. Algumas obras foram escritas após sua liberação, em 1790, tais como Diálogo entre um padre e um moribundo e Os 120 dias de Sodoma. Ambas só vieram a ser publicadas no século XX, respectivamente em 1926 e 1931-35. Dentre as obras que ele conseguiu publicar na sua época, está Justine ou os Tormentos da Virtude. Ele havia escrito essa versão de Justine, quando tinha cinquenta anos, sem se saber ao certo escritor. Nesse percurso, Sade imprime uma forte matriz para a desfiguração do corpo individual e coletivo. A desordem da própria vida, seus diversos encarceramentos e tumultos, fez com que sua obra fosse difusa, com passagens por diversas prisões, como ainda Santa Pelágia e Bicêtre até ser condenado à internação no hospício de Chareton, em 1803, onde dirigiu espetáculos teatrais com os demais internos. Esse histórico fará com que ele seja um contemporâneo de pensadores e escritores ao longo do século XX, pois não apenas o autor, mas a própria obra, também ficou presa ou, melhor, suspensa. No limiar da redescoberta de sua obra no contexto do surrealismo, em um período conflituoso de guerras na Europa, ressaltamos as leituras da "libertação" de obra do Marquês dos anos trinta em diante por Maurice Heine, Pierre Klossowski, Jean Paulhan, Georges Bataille, Maurice Blanchot e seu incansável editor Jean-Jacques Pauvert, que se engajou durante toda sua vida na edição das obras integrais do Marquês. Pauvert publicou um grande estudo, com mais de mil páginas, cuja edição integral aconteceu em 2013 sob o título Sade Vivant [Sade Vivo]. Nos anos cinquenta e sessenta, além dos ensaios de Roland Barthes, Pierre Klossowski, Simone de Beauvoir ou Philippe Sollers, as leituras de Michel Foucault, Jacques Lacan e Gilles Deleuze marcam uma outra década conturbada na França, eclodindo com o Maio de 1968. Adorno e Horkheimer apresentam, em um dos seus excursos da Dialética do Esclarecimento, uma análise de História de Juliette ou as prosperidades do vício. Os aspectos da reificação do humano e dos bons sentimentos da classe dominante estariam postos como um dos pontos de partida fundamentais na obra de Sade. O Marquês, no entanto, permanece irredutível, se lermos essa passagem pelo século XX com Éric Marty, que dedicou um volume para a questão Pourquoi le XXème siècle a-t-il pris Sade au sérieux? [Por que o século XX levou Sade a sério?]. Diante de um período o qual a Europa assistiu a ascenção do Nazismo e o Fascismo, Marty afirma o quão séria foi a leitura que Adorno fez de Sade, onde ele seria "uma ligação intermediária entre Kant e Auschwitz." Sade pôs o homem sob suspeita. Marty, no entanto, afirma que Sade seria mais precioso que um modo de representar os oprimidos, ao abrir a infraestrutura moral das sociedades europeias, mas também quando ele consegue expor uma estrutura sofística central na piedade de um certo grupo que detém um poder: "Graças a Sade, a piedade se mostra como um álibi da lei da alienação universal que a piedade gostaria de atenuar." [...]

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