Enquanto caminhavam pelo calçadão, Fernanda observava Nara. Era esbelta, curvilínea, alta e proporcional em suas formas. Com certa inveja indisfarçável, Fernanda ia notando os olhares masculinos que se voltavam para acompanhar a passagem das duas. Saber que nenhum daqueles olhares era para ela causava-lhe uma dorzinha interior incômoda, reforçando ainda mais sua insegurança. Reconhecia-se insegura, tímida, tão sem feminilidade. Sempre fora daquele modo e nunca se importara, pelo menos até que Sérgio Vieira fora morar no apartamento ao lado do seu. Fernanda não podia se recordar daquele dia sem sentir um arrepio estranho percorrer seu ventre e se espalhar pela sua espinha em impulsos elétricos excitantes. Primeiro aqueles carregadores com roupas comuns e indefectíveis bonés. Fernanda ficara curiosa para saber quem estava se mudando para o apartamento ao lado. A ideia de que pudesse ser uma jovem a interessava. Sentia-se um pouco sozinha e seria interessante ter uma companhia com quem conversar. As outras garotas do prédio eram secas, intragáveis e de narizes empinados. Era apenas mais uma mudança em seu prédio, mas que outras mudanças ela provocaria? Como aquele acontecimento iria influenciar sua vida a ponto de transformá-la radicalmente e, enfim, fazê-la libertar a mulher que por tanto tempo havia sufocado e aprisionado em seu próprio corpo?