Quando nos referimos a experiências ligadas à opressão patriarcal na cultura literária, torna-se interessante pensar no desconforto de algumas vozes femininas, não como vozes isoladas, mas como a voz daquelas que tinham condições materiais, sociais e ideológicas para expressar esse desconforto ..., aquela raiva que ainda não tinha a forma de uma declaração dizível e audível em sentido geral. O que mais se aproximou de uma certa compreensão dos sentimentos de desconforto foi, sem dúvida, a discursividade do feminismo daqueles anos, que apontava condições de injustiça social e política consistentes com o que algumas escritoras expressavam. É essencial ter em mente que nas décadas de 20 e 30, os dispositivos de gênero atuaram moldando papéis num sentido binário e as mulheres foram integradas numa cultura que as marca como uma alteridade. O sexismo contaminou todas as esferas discursivas, até mesmo as resenhas de livros com assinatura feminina nos quais se poderia presumir que a questão de gênero ficaria em segundo plano. Não, pelo contrário, revistas literárias de diversas origens estéticas e ideológicas valorizavam a escrita baseada em categorias sexuais (é viril, é feminina, é afeminada) e, quando a obra tinha assinatura feminina, acrescentavam-se detalhes sobre a beleza e a vida da autora em relação direta com a interpretação da obra. Nesse contexto, surgem vozes femininas que encenam sentimentos que vão do desconforto sutil à raiva mais violenta, diante de limites invisíveis? que a sociedade lhes impôs.