Quando María Gainza escreve nestas páginas sobre as vidas incríveis de El Greco, Courbet, Fujjita ou Toulouse-Lautrec, sobre o banquete que Picasso ofereceu em honra de Henri Rousseau entre a admiração e a troça ou sobre as misteriosas razões por que Rothko se recusou a entregar ao luxuoso Four Seasons uma encomenda milionária, a sua narradora está também a falar do hospital em que o marido fez quimioterapia e onde uma prostituta andava de quarto em quarto, da decadência da sua própria família em Buenos Aires, do desapa-recimento precoce de uma amiga, do desconforto da gravidez ou até do pânico de voar. Como num museu – lugar que, aliás, frequenta muitas vezes à maneira de uma sala de primeiros-socorros –,a sua vida tem obviamente obras-primas, mas também pequenos quadros escondidos em corredores escuros e estreitos. E, no entanto, todos eles importam.O Nervo Ótico é um livro de olhares: olhares dirigidos a pinturas e a quem as contempla. Singular e inclassificável, celebra o detalhe e inaugura um género literário no qual confluem, de forma absolutamente perfeita, a história da arte e a crónica íntima, num tom que oscila entre a comédia social e a ironia trágica. Traduzido por grandes editoras em todo o mundo, esta obra de estreia, tão depressa ousada como subtil, apresenta-nos uma grande escritora contemporânea.«Como diz María Gainza no seu excepcional O Nervo Ótico, suponho que seja sempre assim: escreve-se uma coisa para contar outra.»ENRIQUE VILA-MATAS