Em 1945, no rescaldo do fim da Guerra e da libertação dos campos de concentração pelas forças aliadas, o exército soviético pediu a Primo Levi e a Leonardo De Benedetti, seu companheiro de campo, que redigissem uma relação pormenorizada das condições de vida nos Lager. O resultado foi um dos primeiros relatórios alguma vez realizados sobre os campos de extermínio.
Chocante pela objectividade e detalhe, tocante pela precoce e indignada lucidez, é um testemunho extraordinário daquela que viria a ser uma das vozes mais relevantes da antologia de memórias sobre o Holocausto.
Assim foi Auschwitz recolhe esse relatório e vários outros textos de Primo Levi - inéditos até hoje - sobre a experiência colectiva do Holocausto, compondo um mosaico de memórias e reflexões críticas de inestimável valor histórico e humano, tão relevantes hoje, setenta anos volvidos sobre o fim da Segunda Guerra, como no tempo em que foram escritos.
«A nossa esperança é que tudo o que aqui foi documentado seja visto e lembrado como uma aberração a não repetir até ao futuro mais longínquo. A esperança de todos os homens é que estas imagens sejam vistas como um fruto horrendo, mas isolado, da tirania e do ódio: que se identifiquem as suas raízes na grande parte da história sangrenta da Humanidade, mas que o fruto não dê novas sementes,nem amanhã nem nunca.»
Primo Levi nasceu em Turim, em 1919, e suicidou-se na mesma cidade em 1987. Licenciado em Química, participou na Resistência, foi preso e internado no campo de concentração em Auschwitz. É, fora de dúvidas, com Calvino e Pavese, uma das principais figuras da geração italiana do pós-guerra. Notabilizou-se pela autoria de vários livros sobre a experiência nos campos de concentração - de que o livro Se isto é um homem éo exemplo mais célebre - assim como de volumes de contos e romances. Assim foi Auschwitz, escrito com Leonardo De Benedetti e curado por Fabio Levi e Domenico Scarpa, recolhe um conjunto admirável de textos inéditos em Portugal sobre a experiência dos campos de extermínio. «Esta é a experiência da qual saí e que me marcou profundamente; o seu símbolo é a tatuagem que até hoje trago no braço: o meu nome de quando não tinha nome, o número 174517. Marcou-me, mas não me tirou o desejo de viver: pelo contrário, aumentou-o, porque conferiu uma finalidade à minha vida, a de dar testemunho, para que nada semelhante alguma vez volte a acontecer. É esta a finalidade que têm os meus livros.»