Poemas e fragmentos: Edição 2

· Iluminuras
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Instável por definição, o domínio de Eros está fadado à incerteza: sobre cada noite de amor sempre pode pesar a ameaça de ser a última. Daí que a fantasia da permanência ocupe a imaginação dos amantes desde há muito tempo. Ou, ao menos, desde a idade de ouro do lirismo grego, por volta de 600 a.C., quando Safo de Lesbos registrou em versos suas delicadas súplicas para a paixão subsistir ao tempo: "possa para mim esta noite / durar duas noites". Versos assim, que compõem os fragmentos de Safo hoje conhecidos, deram origem à poesia amorosa do Ocidente. E, com efeito, não será essa outra noite desejada, que vem se acrescentar à noite vivida, a substância secreta de todo poema de amor? Não se poderá reconhecer aí a dimensão imaginária que, fundando a lírica de Eros, se oferece como um prolongamento do encontro amoroso? Safo era atenta à brevidade dos afetos. As jovens mulheres da ilha de Lesbos que frequentavam seu círculo literário para serem iniciadas nas artes da dança, da poesia, da música e também do amor —, ali estavam apenas de passagem. Formadas por ela, essas jovens a deixariam um dia para se casar, abandonando-a ao trabalho silencioso das palavras: "em relação a vós, lindas, / meus pensamentos nunca mudarão". Não surpreende que seus poemas evoquem com frequência a solidão da amante ("a Lua já se pôs, as Plêiades também; é meia- / noite; a hora passa e eu, / deitada estou, sozinha"), e lamentem a distância intransponível que a separa do objeto amado ("não posso tocar o céu / com as mãos"). Ou, ainda, que revelem a implacável lógica do encontro impossível: "igual à doce maçã que amadurece lá no alto, no mais alto ramo pelos colhedores esquecida — esquecida, não: que eles não conseguiram alcançar" Essa voz solitária e íntima que a tradução sensível de Joaquim Brasil Fontes agora faz chegar até nós instaura um apelo que, desde então, não cessa de ecoar na poesia amorosa ocidental. É o apelo de um Eros sensual e meditativo, "tecelão de mitos", entregue de corpo e alma à criação de uma outra noite para contemplar o desejo dos amantes. Eliane Robert Moraes

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Safo (em grego antigo: Σαπφώ, transl. Safo) foi uma célebre poetisa grega da ilha de Lesbos, contemporânea de Pítaco e Alceus. É conhecida por sua poesia escrita para ser cantada ao som da lira. A maioria dos poemas de Safo se perdeu ao longo do tempo, assim como ocorreu com praticamente todos os escritores da antiguidade, e o que sobreviveu resta em forma de fragmentos, sendo seu único poema completo a chegar aos dias atuais intitulado Ode a Afrodite", preservado por Dionísio de Halicarnasso em sua obra sobre a composição dos nomes; mas há fragmentos considerados suficientemente inteiros, como os do poema Titônio, fragmento 16, fragmento 31 e Poema dos Irmãos. Além da poesia lírica, os antigos comentaristas afirmam que ela escrevia poesia elegíaca e iâmbica. Pouco se sabe sobre a vida de Safo, sabe-se que ela era filha de uma família rica da aristocracia de Mitilene, porém não é possível ter certeza sobre o real nome de seus pais, sendo atribuídos geralmente o nome de Cleis para a sua mãe e de Escamandronimo para seu pai. Fontes antigas dizem que ela possuía três irmãos, os nomes de dois deles são mencionados no poema "Os Irmãos", descoberto em 2014.

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