O livro Soledad no Recife percorre as veredas dos testemunhos e das confissรตes ao reviver a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e a traiรงรฃo que culminou em sua tortura e assassinato pela ditadura militar. Delatada pelo prรณprio companheiro Daniel, conhecido depois como Cabo Anselmo, Soledad morre com um grupo de candidatos a guerrilheiros, na capital pernambucana, pelas mรฃos da equipe do delegado Sรฉrgio Paranhos Fleury. O episรณdio ficou conhecido como "O massacre da chรกcara Sรฃo Bento" e revelou-se mais um extermรญnio do que um confronto armado. A trama real inspira o romance em que Urariano Mota - com a propriedade de que viveu e sobreviveu aos anos pรณs 1964 - resgata os vestรญgios da traiรงรฃo arquitetada contra Soledad e contra o Paรญs naqueles tempos, com o olhar reflexivo de quem se volta ao passado. A vida e morte de Soledad รฉ um forte contraponto a "histรณria oficial" propagada pela mรญdia na รฉpoca e um testemunho da violรชncia do Estado. Nas palavras de Flรกvio Aguiar, que assina a apresentaรงรฃo da obra, Soledad no Recife รฉ a recuperaรงรฃo de uma histรณria, "como preito ร quelas vidas que se doaram e foram ceifadas pela traiรงรฃo inesgotรกvel que foram o golpe e ร ditadura de 1964 ao seu prรณprio paรญs - traiรงรฃo espelhada na de Anselmo ao amor que, sabe-se lรก por que, despertou em Soledad".