A experiência da transcendência remonta ao começo da filosofia. Em sua busca por fixar a ideia do bem como o aprendizado mais sublime a que se devia almejar, para quem se pusesse no caminho da filosofia, Platão evoca a transcendência, quando indica que aquela ideia fundamental, como fonte originante do ser e da essência, sem que ela mesma seja essência, repousa e exerce seu domínio para além da essência (ἐπέκεινα τῆς οὐσίας). É por isso que, como disse Hans-Georg Gadamer certa vez, "a ideia do bem é o ponto mais alto no pensamento platônico" ainda que "não seja apreensível como os outros objetos do ensino", pois "ela é ideia; ela é a perspectiva em tudo". Nos Problemas Fundamentais da Fenomenologia, Heidegger diz que "o que buscamos é a ἐπέκεινα τῆς οὐσίας", ciente, contudo, de que "em sua unidade ekstático-horizontal, a temporalidade é a condição fundamental da possibilidade do ἐπέκεινα, isto é, da transcendência que constitui o próprio ser-aí". Neste belo trabalho de Bruno Lemos Hinrichsen, o leitor encontrará o esclarecimento suficiente dessa surpreendente e enigmática experiência da transcendência, que alimenta as raízes do ato de filosofar e da filosofia. Gilfranco Lucena dos Santos Universidade Federal da Paraíba