Paulo e Beatriz. Um escritor e sua leitora. Tudo começa com uma declaração, uma frase truncada que diz: "cometi um erro emocional". O diálogo travado a partir dessa confissão insinua, mais do que de fato revela, um mergulho pelas lembranças – sejam as frágeis situações familiares, sejam os fracassados relacionamentos amorosos – que habitam a mente dos personagens. Nas poucas palavras trocadas entre cálices de vinho e goles de chá, sente-se a presença do não dito e daquilo que ficou por dizer.
Aos 42 anos mal vividos, o escritor sonha ter encontrado enfim uma mulher disposta a conduzi-lo. E Beatriz, uma desconhecida, agora tem diante de si o próprio autor que aprendera a amar pelos livros, num misto de admiração, idealização e, sobretudo, falta de intimidade.
Por meio da dicção precisa e arrebatadora de Tezza, somos convidados a assistir à conversa dos personagens de um ponto de vista privilegiado. Movidos pelo desejo, mas paralisados diante do medo, Paulo e Beatriz se tornam cúmplices. Nos intervalos de silêncio, a esgrima dos sentimentos tateia em busca da palavra que redime: "O amor é um sentimento necessariamente povoado de sombras. Ou será a paixão que é sombria?"