Na manhã de 18 de junho de 1859, quem estivesse no cais de Fortaleza presenciaria uma cena inusitada. Catorze camelos, chegados da Argélia após uma travessia de 34 dias, estavam sendo desembarcados em caixotes de madeira para serem usados como alternativa às mulas de carga.
Pouco antes, o Brasil recebera expedições europeias importantes, como a de Martius e Spitz, mas também aventureiros que voltavam ao velho continente com relatos de uma terra exótica e estranha. Ressentidos com a visão dos estrangeiros e impulsionados pelo espírito científico de D. Pedro II, os membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro arquitetaram sua própria expedição para registrar a fauna, a flora, a topografia e os costumes do país a partir de uma perspectiva nacional.
A importação dos camelos fazia parte da expedição. Os cientistas receberam os animais e seguiram com eles para o interior do Ceará. Assim, após um longo e conturbado preparo, a expedição enfim partiu, num périplo que duraria anos, percorreria centenas de quilômetros e terminaria por compor a primeira grande coleção naturalista nacional. Com base em diários, documentos e arquivos, Delmo Moreira recria os caminhos e desvios da expedição.
Ao centro de tudo estão Capanema, Freire Alemão e Gonçalves Dias, cujas vidas se entrelaçam com a própria história do país. Amigo do imperador, Capanema tinha na expedição uma oportunidade de se esbaldar longe da metrópole. Gonçalves Dias fugia de um casamento infeliz e Freire Alemão via ali o ápice de suas ambições profissionais. Este livro é um passeio pela história da ciência e da pesquisa no Brasil, bem como um retrato não apenas da expedição, mas de um país que era visto pela primeira vez.