Ao chegar clandestinamente à cidade portuária de Óstia, Publius Desiderius Dolens está imundo, anda com andrajos e seus olhos cor de lodo são um misto de ódio, medo e loucura. Os únicos bens que lhe restam são alguns cobres, um punhal e o pequeno abutre de bronze que um dia ganhou de sua mãe. Derrotado na guerra civil que arrebatou Roma das mãos de Salvius Otho e a entregou a Aulus Vitellius, Dolens não é mais legionário, centurião e tampouco tribuno, mas sim um desertor jurado de morte pelo novo imperador.
O anti-herói irascível e melancólico de O centésimo em Roma está de volta. Já não é o plebeu que consegue, aos trancos, mudar de classe social e tornar-se tribuno durante a derrocada de Nero. Ele agora precisa passar incógnito, vivendo em discreta miséria como guarda-costas do templo da deusa Cibele. Lá tenta apenas fazer o básico: afugentar os fanáticos cristãos, empurrar escada acima os touros para cerimônias sacrificiais e empunhar, resignadamente, um esfregão enquanto limpa o sangue derramado sobre o piso durante os ritos.
A sorte ou o destino, no entanto, parecem estar a seu favor. Titus Flavius Vespasianus, governador da Judeia, pouco a pouco alimenta o sonho de tornar-se o César, e consegue apoio das tropas do Oriente para marchar em direção a Roma e tentar tomá-la das mãos de Vitellius. Para tanto, buscará todo e qualquer aliado, enviando mensageiros à procura daqueles que lutaram por Otho e, depois da derrota, desapareceram a fim de sobreviver. Ao ouvir a notícia e sem mais nada a perder, Dolens decide se juntar aos insurgentes.
Em cenas de batalha memoráveis e diálogos cheios de ironia, Max Mallmann realiza algumas proezas: dá vida a romanos históricos e imaginados, brinca com o gênero da ação sem abrir mão de um trabalho impressionante com as referências de época - as mais diversas épocas - e conversa elegantemente com o leitor.