O arquipélago de Malta e Gozo, no mar mediterrâneo, se caracterizam por mais de 5000 anos de historia e colonização por diversos povos que deixaram suas marcas idiossincráticas. Um dos eventos mais importantes foi o naufrago e a estada de Paulo de Tarso em 60 EC que gerou a tradição segundo a qual o Cristianismo perdurou desde aquela época ate a contemporaneidade, sem interrupções. O mito do Cristianismo ininterrupto no arquipélago de Malta questiona essa versão e tenta provar a hipótese de que arqueologicamente o Cristianismo começou no século 4 EC. Abundam hipogeus e catacumbas que revelam a presença do Cristianismo entre os séculos 5 e 9 EC, embora o culto ao imperador fosse predominante durante a ocupação romana, enquanto o período bizantino carecesse de evidencia arqueológica farta e decisiva. Comente na década de 1960 que as ruinas de uma basílica bizantina foram encontradas. Ademais houve uma interrupção radical étnica e religiosa no período de dominação muçulmana entre 870 e 1048. Durante quase 180 anos as ilhas de Malta e Gozo ficaram despovoadas e somente em meados do século 11 colonos muçulmanos siculo-arabes iniciaram uma nova colonização. O arquipélago começou a tornar-se lentamente cristão a partir da segunda invasão normando por Rogério II em 1127; contudo, após cem anos desse evento, a população muçulmana ainda era predominante. O Cristianismo foi reintroduzido da sicilia efetivamente no século 12 EC, mas se consolidou somente nos séculos 13 e 14. Devido a um senso de culpa referente a um passado muçulmano que desejava suprimir, a população maltesa adquiriu uma profunda consciência crista e europeia e fabricou lendas e tradições sobre o “passado cristão” que compensariam e quase anulariam a interrupção religiosa. Esse livro narra a historia dessas tradições e recoloca a história do arquipélago sobre uma epistemologia histórica solida, dirimindo as fabricações construídas durante séculos.