"António Leite, casado com Maria Pereira, e morador na vila de Guimarães, em 1634, era o cutileiro de maior voga em Portugal.
Naquele ano, tinham um filho, de nome Domingos, com dezessete anos de idade.
Quisera o pai ensinar-lhe a arte que lhe dera fama e dinheiro. A mãe desejava que o rapaz fosse frade, consoante à vontade de seu irmão Fr. Gaspar de Santa Teresa, leitor apostólico de moral no convento de S. Francisco de Lisboa.
Ora o rapaz não queria ser frade nem cutileiro, aspirava ardentemente um ofício mais prestado ao género humano enfermiço: queria ser boticário.
Era esperto o moço, não só porque apetecia ser boticário, mas porque realmente era agudo do entendimento, ladino, sedento de saber tudo e propenso a correr mundo, tendência, na verdade, incompatível com a quietação da almejada botica,
Aos quinze anos, Domingos sabia latim, cursava filosofia de Aristóteles com um insigne mestre da ordem franciscana, e lia os cartapácios farmacêuticos do frade boticário do mesmo convento."